Família Sette Câmara


A antiga família Sette Câmara tem sua origem em Portugal, em dois irmãos, Sebastião e Antônio, que, emigrados para o Brasil, estabeleceram-se em Minas Gerais (na dita “Zona do Carmo”) e em Pernambuco.

Os irmãos Sebastião e Antônio eram filhos do Capitão Antônio Rodrigues Sette e de Maria Joana Gonçalves da Câmara, por onde

ocorreu a união dos sobrenomes Sette e Câmara; eram netos paternos de João Rodrigues Sette e de Maria Francisca de Jesus; e netos maternos de Sebastião Gonçalves da Câmara (donde lhes vieram as armas desta família na “Carta de Brasão de Armas”: de sable, com uma torre de argente, assente num monte de sinopla, sustida por dois lobos rampantes de jalde; tendo por timbre um dos lobos passante) e de Patrícia Luiza da Cruz. 

José Sette Câmara Filho era descendente do Sargento-Mor Sebastião Rodrigues Sette Câmara nascido por volta de 1773, em Braga, Portugal, e que passou para as Minas, no posto de sargento-mor das ordenanças do termo de Mariana, sendo Cavaleiro Professo na Ordem de Cristo, Capitão do Primeiro Regimento de Cavalaria de Milícias da Cidade de Mariana, fidalgo, com Carta de Brasão de armas, tendo se casado, por volta de 1794, em Mariana, com Teresa Joaquina Fidélis da Silva.

Brasão da família Sette Câmara

Carta do rei de Portugal concedendo o Brasão


“D. João
Por Graça de Deus Príncipe-Regente de Portugal e dos Algarves daquém e dalém mar em África Senhor de Guiné e da Conquista Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e da Índia. Faço saber aos que a esta Minha Carta de Brasão de Armas de Nobreza e Fidalguia virem, que Sebastião Rodrigues Sette e Câmara (sic), Cavaleiro Professo na Ordem de Cristo, e Capitão do primeiro Regimento de Cavalaria de Milícias da Cidade de Mariana, me fez petição dizendo que pela sentença de justificação de sua Nobreza a ele junta, proferida e assinada pelo Meu Desembargador Corregedor do Cível da Corte e Casa da Suplicação, o Doutor Joaquim Gomes Teixeira, subscrita por Joaquim Rebelo de Lima Aragão, que serve nos impedimentos do Proprietário Escrivão do mesmo juízo, se mostrava que ele é filho legítimo do Capitão Antônio Rodrigues Sette, e de sua mulher Dona Maria Joana Gonçalves. 

Neto paterno de João Rodrigues Sette e de sua mulher Dona Maria Francisca de Jesus e por parte materna de Sebastião Gonçalves da Câmara, e de Patrícia Luiza da Cruz. E que os ditos seus Pais e Avós são pessoas Nobres das famílias de Rodrigues, e Câmaras, deste Reino e como tais se trataram à Lei de Nobreza com muito fausto e grandeza sem que em tempo algum cometessem crime de Lessa Majestade Divina ou Humana; pelo que me pedia ele suplicante por Mercê, que para a memória de seus Progenitores não se perder, e clareza de sua antiga Nobreza lhe mandasse dar Minha Carta de Brasão de Armas das ditas famílias para delas também usar na forma que as trouxeram, e foram concedidas aos ditos seus progenitores. 

E vista por Mim a dita sua petição, sentença, e constar de tudo referido, e que a ele como descendente das mencionadas famílias lhe pertence usar e gozar de suas Armas, segundo Meu Regimento, e Ordenação da Armaria lhe mandei passar esta Minha Carta, de Brasão delas na forma que aqui vão Brasonadas, Divisadas, e Iluminadas com cores, e metais, segundo se acham Registradas no Livro do Registro das Armas da Nobreza, e Fidalguia destes Meus Reinos, que tem o Meu Rei de Armas Portugal. 

A saber Um escudo partido em pala. Na primeira as Armas dos Rodrigues que são em Campo de outro cinco flores de liz, fanguinhas postas em fautor, chefe desta cor carregado de uma cruz de ouro florida e vazia do campo. Na segunda para as Armas dos Câmaras, que são em Campo Negro uma Torre de Prata coberta com seu Corucheu que remata em uma cruz de ouro assentada sobre um monte de sua cor entre dois lobos rompantes também de ouro. Elmo de prata aberto guarnecido de ouro. Paquife dos metais e cores das Armas. 

Timbre dos Rodrigues que é um Leão de ouro nascente com uma das flores de liz do Escudo na espádua, e por diferença uma brica de prata com um trifólio verde. O qual Escudo e Armas poderá trazer e usar tão-somente o dito Sebastião Rodrigues Sette e Câmara, assim como as trouxeram, e usaram os ditos Nobres, e antigos Fidalgos seus Antepassados em tempo dos Senhores Reis Meus Antecessores, e com elas poderá entrar em Batalhas, Campos Reptos, Escaramuças e exercitar todos os mais atos lícitos da Guerra e da Paz.E assim mesmo poderá trazer em seus Firmais, Anéis, Sinetas, e Divisas, pô-las em suas Casas, Capelas e mais Edifícios, e deixá-las sobre sua própria Sepultura, e finalmente se poderá servir, honrar, gozar e aproveitar delas em tudo e por tudo como à sua Nobreza convém. 

Com o que Quero e me Praz que haja ele todas as Honras, Privilégios, Liberdades, Graças, Mercês, Isenções e Franquezas, que têm e devem ter os Fidalgos, e Nobres de antiga linhagem, e como sempre de tudo usaram e gozaram os ditos seus Antepassados. Pelo que Mando aos Meus, Desembargadores, Corregedores, Provedores, Ouvidores, Juízes e mais serventuários da justiça de Meus Reinos, e em especial aos Meus Reis de Armas Arautos e Passavantes e a quaisquer outros oficiais, e pessoas a quem esta Minha Carta for mostrada e o conhecimento dela pertencer, que em tudo a cumpram e guardem, e façam inteiramente cumprir e guardar como nela se contém, sem dúvida nem embargo algum que a ela seja posto porque assim é Minha Vontade. 

O Príncipe-Regente Nosso Senhor o mandou por Antônio da Silva Rodrigues, Cavaleiro de Sua Casa Real e seu Rei de Armas de Portugal, Francisco de Paula Campos, Escrivão da Nobreza destes Reinos e suas Conquistas a fez em Lisboa aos sete dias do mês de Setembro do Ano do Nascimento de Nosso Senhor JESUS Cristo, de mil oitocentos e sete.

(Manuscrito). Eu, Francisco de Paula Campos a fiz e subscrevi.
Rei de Armas de Portugal









José Sette Câmara Filho



José Sette Câmara Filho (Alfenas, 14 de abril de 1920 – Rio de Janeiro, 30 de agosto de 2002) foi um advogado, diplomata e político brasileiro.

Advogado, diplomado pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, em 1945; pós-graduado pela Universidade Mc Gill, de Montreal, no Canadá, em 1949.

Em 1945 ingressou na carreira diplomática. Foi terceiro secretário, servindo na Embaixada do Brasil em Washington D.C., em 1947; Vice-cônsul em Montreal, no Canadá, em 1947; terceiro secretário, em 1950; segundo secretário em 1951; primeiro secretário, em 1953, servindo na delegação brasileira junto a ONU. Foi Secretário-Chefe do Gabinete Civil da Presidência da República, entre 1952 e 1954. Foi Cônsul em Florença, na Itália, em 1954; Ministro em 1956; Membro do Conselho Administrativo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico em 1956; Ministro Plenipotenciário, em missão especial nas solenidades de posse do Presidente da Colômbia, em 1958; Subchefe, em 1956 e chefe, em 1959, do Gabinete Civil da Presidência da República; Secretário Geral no Conselho Coordenador de Abastecimento, em 1959, Governador do estado da Guanabara em 1960; e Prefeito do Distrito Federal, entre 1961 e 1962.

Em 1961 ingressou como representante permanente do Brasil no escritório das Nações Unidas, em Genebra. De 1963 a 1964, foi embaixador na Suíça; de 1964 a 1968 foi representante permanente do Brasil na Assembleia das Nações Unidas; e de 1972 a 1979 foi embaixador na Checoslováquia. Além disso, chefiou as delegações brasileiras nas reuniões da assembleia geral da ONU e, tanto em 1964, como de 1967 a 1969 foi o representante do Brasil no Conselho de Segurança. Em 1970, como sucessor do falecido Gilberto Amado, foi escolhido membro da Comissão de Direito Internacional Público das Nações Unidas, sendo reconduzido em 1971 e em 1977.

Tendo ficado, de 1970 a 1978, na Comissão de Direito Internacional Público das Nações Unidas, atuou como juiz ao Tribunal Internacional de Justiça, em Haia, de 1979 a 1988; sendo que de 1982 a 1985, foi Vice-Presidente deste tribunal.

Desde 1977, pertencia ao Instituto Internacional de Direito, e desde 1988, era membro honorário da Sociedade Americana para o Direito Internacional.

Aposentando-se, retornou ao Rio de Janeiro, onde faleceu a 30 de agosto de 2002, em decorrência de um derrame cerebral.

Ministro lamenta falecimento de Sette Câmara
31/05/2002 - 19h50

Brasília, 31 (Agência Brasil - ABr) - O ministro Celso Lafer, das Relações Exteriores, divulgou há pouco a seguinte nota de pesar pelo falecimento do embaixador José Sette Câmara Filho.

"A morte, aos 82 anos de idade, do embaixador José Sette Câmara Filho, priva o Brasil de um dos grandes expoentes de sua Diplomacia. Ingressado na Casa de Rio Branco em 1945, a passagem de Sette Câmara pela vida pública confunde-se com acontecimentos relevantes da segunda metade do século XX. Teve atuação destacada nas Nações Unidas no período de 1964 a 1968, ocasião em que, ao chefiar a delegação brasileira àquele órgão, participou dos trabalhos da Comissão Preparatória para a Desnuclearização da América Latina, que levariam em 1967, na Cidade do México, à conclusão do Tratado para a Proscrição de Armas Nucleares na América Latina, conhecido como Tratado de Tlatelolco. Entre 1967 e 1968, chefiaria a delegação brasileira ao Conselho de Segurança das Nações Unidas.

A título mais pessoal, permito-me fazer três registros sobre a figura de José Sette Câmara Filho:
como admirador e estudioso do Governo Juscelino Kubitschek, gostaria de destacar o papel que exerceu como colaborador de JK na Prefeitura de Belo Horizonte, no período de 1940 a 1945, e sua atuação no Gabinete Civil da Presidência da República, que chefiou entre 1959 e 1960, período particularmente rico de nossa história, marcado, entre outros episódios, pela mudança da capital do Rio de Janeiro para Brasília. Como jurista, destaco sua contribuição ao Direito Internacional seja na Comissão de Direito Internacional (CDI) das Nações Unidas, que presidiu, seja na Corte Internacional de Justiça da Haia.

Sua expressiva passagem pela Corte Internacional de Justiça, para a qual foi eleito em 1978, marcou a volta do Brasil àquela instituição após ausência de 22 anos. Finalmente, como analista político, gostaria de destacar a arguta sensibilidade e inteligência que permeiam seu depoimento memorialístico sobre a crise do segundo governo Vargas, Agosto 1954, qualidades que nunca lhe faltaram ao longo de uma vida pública tão rica em circunstâncias como em realizações.
Celso Lafer".